Páginas

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Economia do Saber

Por DR. SOFIANE LABIDI
Jornal Pequeno, 7 de março de 2010 às 10:44


Em um mundo moderno onde a única certeza é a mudança, apenas o conhecimento é uma fonte segura de vantagem competitiva. O conhecimento passou a ocupar uma posição essencial no desenvolvimento das forças produtivas. As empresas de sucesso são aquelas que, de forma consistente, criam novos conhecimentos, os disseminam e os incorporam para gerar novas tecnologias e produtos. Isso caracteriza a empresa criadora de conhecimento cuja inovação contínua é seu negócio.


As transformações ocorridas nos últimos anos estão nos levando a um novo modelo, um novo paradigma de organização da economia e da sociedade. Estamos assistindo à emergência de uma nova economia: a "economia do conhecimento" mais conhecida como a "economia do saber" na qual, a pesquisa e a inovação técnico-científica são os motores da produção e do desenvolvimento. Na sociedade do saber, o recurso controlador não é mais o capital, a terra ou a mão-de-obra, mas, sim, o conhecimento, a capacidade e a experiência. A sociedade do saber é fundamentada no princípio que o conhecimento constitua o maior elemento do desenvolvimento da atividade humana. Uma sociedade do saber cria, compartilha, e usa o saber para a prosperidade e o bem estar de seus cidadãos. A relação entre conhecimento e desenvolvimento é fundamental para a construção da sociedade do saber, pois o saber, além de ser uma ferramenta para a satisfação das necessidades econômicas, é um elemento fundamental para o crescimento humano.


Para enfrentar seus desafios, uma cidade, uma região ou uma nação, deve melhor apreender o conceito da economia do saber para melhor integrá-la às suas estratégias de desenvolvimento e adaptá-la de forma eficiente aos seus contextos econômicos. Tanto para os indivíduos, empresas ou governos; sobrevive hoje quem sabe mais, quem sabe aprender e quem aprende mais rápido.


Porém, o conceito de economia do saber não é tão recente. Logo nos anos 50, foi observada uma expansão gradual das atividades não-agrícolas e não-industriais. A tal economia emergente, foi referida na época como economia pós-industrial e em seguida como "indústria baseada no conhecimento" e "capitalismo cognitivo" quando foi descoberto que as ocupações ligadas à produção do conhecimento tinham ultrapassado as outras ocupações em quantidade. Logo no final dos anos 70, foi utilizado o termo "economia da informação". Mas, com a emergência das novas tecnologias (Internet, Web, Inteligência Artificial, etc.) esta economia amadureceu e cresceu rapidamente para a economia do conhecimento e do saber.


A economia do saber é caracterizada pelo aumento da participação do conhecimento na criação de valor agregado e por uma difusão rápida das novas tecnologias da informação. Assim, o tamanho da economia do saber pode ser medido pela parcela do setor no PIB (Produto Interno Bruto) total e portanto, ela não pode ser limitada apenas aos setores da tecnologia, mas deve envolver todos os setores de atividades desde que comprometidos com a geração de trabalho e a melhoria da produção.


É pela educação que se prepara a população para a entrada na nova era e que se constrói a sociedade do saber. De fato, há uma evidência histórica da relação entre educação e produtividade. Essa relação se consolidou ainda mais com o advento da sociedade do saber. Isso significa que, se quisermos realmente ser competitivos, teremos que mudar nosso modo de entender e de agir em relação à educação, pois o desenvolvimento das economias modernas que são baseadas no conhecimento aumenta ainda mais a importância da política educacional.


A demanda por formação é cada vez maior. Essa demanda não somente cresce como também sofre uma mutação profunda. Como vivemos na sociedade da mudança e da revolução tecnológica, a maioria do conhecimento adquirido no início de uma carreira fica praticamente obsoleto antes mesmo de seu término. Porém, até os anos 60, as competências adquiridas por uma pessoa permanecem quase inalteradas até o final de sua carreira. O estereótipo onde se aprende uma profissão na juventude para exercê-la ao longo da vida está ficando em xeque.


Os sistemas educacionais encontram-se desatualizados com relação à quantidade, diversidade e, principalmente, velocidade de evoluções dos saberes. Assim, a educação e a generalização do saber são nossos maiores desafios. Devemos considerar a transição de uma educação institucionalizada para uma troca de saberes. Devemos ampliar os mecanismos e o esforço pedagógico dos professores e formadores e investir mais na formação profissional e contínua. O pensador e filósofo da informação Pierre Lévy, por exemplo, propõe duas reformas fundamentais nos sistemas educacionais: o reconhecimento das novas formas de aprendizagem por meio das experiências social e profissional e não mais somente por meio das formas tradicionais; e a utilização do Ensino Virtual.


O impacto da evolução para a nova economia é muito grande. Com a economia do saber cria-se um ambiente competitivo que atraia e fixa novas empresas e encorajar a criação de novos empreendimentos locais. Ela orienta a geração de trabalho e de riquezas, fortalece a competitividade e o desenvolvimento inclusivo, sustentável, sólido, geral e equilibrado. Os novos paradigmas trazidos pela sociedade do saber têm muitas conseqüências: o fato que as competências profissionais se tornam obsoletas ao longo do tempo, a nova natureza do trabalho que valoriza a transação do conhecimento (aprender, transmitir, produzir), as novas formas de acesso à informação; e os novos estilos de raciocínio e conhecimento.


Infelizmente, é evidente a fraqueza do posicionamento do Maranhão quanto à economia do saber onde vários fatores impedem seu desenvolvimento. Deve-se, deste modo, adotar uma série de políticas que causam transformações importantes nos setores da educação, da inovação e das Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs reforçando assim suas capacidades de formação, de tecnologia, e de produção fatores esses determinantes da competitividade e do desenvolvimento.


Além dos governos e do setor de tecnologia, todos os atores econômicos e sociais devem se sentir responsáveis pela criação do saber e a construção de competências tanto nas empresas como no setor público. Uma dinâmica coletiva requerendo a multiplicação das interações e das relações de cooperação entre todos os atores (Fiema, Sebrae, IEL, Senai, IEs, etc.), bem como uma política ambiciosa e inovadora de investimento no conhecimento estão se impondo. Iniciativas como a criação de parques tecnológicos, institutos e pólos de pesquisa e desenvolvimento, institutos e faculdades de tecnologia, empresas júnior, incubadoras de empresas, etc. são ações necessárias e urgentes para implantação e sucesso de tal economia.


É preciso também, investir em um grande projeto de formação e qualificação de recursos humanos e reforçar a cooperação intersetorial e o papel das empresas do setor privado e das organizações da sociedade civil organizada.


É preciso, portanto buscar modernizar o sistema educacional e encorajar investimentos maciços em todos os setores relacionados com o conhecimento e com as novas tecnologias. A economia do saber deve ser reconhecida como um elemento fundamental no desenvolvimento econômico e social das comunidades.


Acreditamos que apenas uma economia baseada no saber tem a capacidade de gerar uma verdadeira coesão social e que a ligação intrínseca entre o homem e o conhecimento é a essência mesmo desta nova tendência da história onde o homo sapiens prevalece sobre o homo faber.


Biografia
Sofiane Labidi é doutor em Inteligência Artificial (1995) pelo Instituto Francês de Pesquisa em Informática e Automática (INRIA). Tem graduação e mestrado em Ciência da Computação pela Universidade de Nice Sophia Antipolis (França). Dr. Labidi possui uma larga experiência em pesquisa e produção científica e tem vários artigos publicados em periódicos e congressos nacionais e internacionais na área de Inteligência Artificial. Ele foi coordenador de vários cursos de pós-graduação Lato Sensu, coordenador do Laboratório de Sistemas Inteligentes - LSI, da Ufma, onde coordenou vários projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e já formou mais de 40 mestres e doutores. Ele ministrou várias palestras no Brasil e no mundo e organizou vários congressos científicos. É editor de várias revistas internacionais, na área de Inteligência Artificial, e foi presidente do Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial (SBIA´2004). Dr. Labidi é consultor do Sebrae, na área de Gestão do Conhecimento, e membro fundador da Academia Maranhense de Ciência. Dr. Labidi ocupou vários cargos como coordenador do Núcleo de Educação à Distância em Saúde, do Pólo da Saúde do Maranhão; pró-reitor de Pesquisa da Universidade Virtual do Maranhão e diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão (Fapema). Atualmente é assessor especial do prefeito de São Luis, João Castelo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário