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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Gestão do Conhecimento

O valor de mercado de uma empresa é a soma de seus ativos tangíveis e intangíveis. Os ativos tangíveis são os bens materiais da empresa (máquinas, móveis, estoques, etc.) e os ativos intangíveis (imateriais) são aqueles que não possuem existência física (marcas, patentes, competências, estratégias, capacidades de inovação, etc.). Estima-se hoje que o valor econômico de uma empresa bem sucedida é constituído por aproximadamente 80% de ativos intangíveis e apenas 20% de ativos tangíveis. É exatamente o contrário do que erra quatro décadas atrás. Como exemplo, a empresa Natura, líder do mercado brasileiro de cosméticos e uma das três marcas mais valiosas do país com um valor de mercado de 3,5 bilhões de dólares (2006) tem 90% em ativos intangíveis e apenas 10% em ativos tangíveis.

Enquanto os ativos tangíveis estão se tornando commodities i.e. sem muito poder competitivo, os ativos intangíveis, fortemente baseados no conhecimento, tornarem-se mais relevantes na criação de valor agregado para sociedade e para economia. Portanto, na era do Saber, as organizações precisam considerar o conhecimento como elemento indispensável nas suas estratégias de negócio.

O conhecimento é classificado em dois tipos: tácito e explícito. O conhecimento tácito é aquele disponível na mente das pessoas, difícil de ser explicitado e formalizado (exemplos: "dirigir uma bicicleta", "reconhecer a voz de algum", etc.). Já o conhecimento explícito é facilmente estruturado, podendo ser armazenado em documentos, manuais, bancos de dados, etc. (exemplos: leis, axiomas, etc.). O conhecimento tácito representa cerca de 70% dos ativos intangíveis da empresa o que explica a complexidade da localização e identificação do saber da empresa.

A questão é: "como as organizações devem lidar com o conhecimento para gerar riqueza e atender aos requisitos de competitividade e mudança do mundo globalizado?". Isto é o propósito da Gestão do Conhecimento (GC). Na era do Saber, a Gestão do Conhecimento se transformou em um valioso recurso estratégico na vida das pessoas e das empresas. Ninguém hoje duvida na importância do conhecimento para sociedade, porém "saber muito" não implica necessariamente em um maior poder de competição. Isto porque o conhecimento deve ser aliado à sua gestão eficiente para gerar resultados.

Entretanto, nos últimos anos, as empresas investirem muito em tecnologia como sendo o diferencial de mercado. Atualmente, a tecnologia continua sendo um grande diferencial, porém não é o mais valioso. A tecnologia, com custos cada vez mais acessíveis, está aí disponível para qualquer organização que quer investir. Porém, devido ao mercado globalizado onde a concorrência é altamente competitiva, as empresas estão procurando cada vez mais gerir seus conhecimentos para inovar e abrir novas oportunidades de negócio.

O interesse das organizações no conhecimento se deve principalmente pelo conhecimento estar muito associado à ação. O conhecimento é avaliado pelas decisões e ações que ele desencadeia. Um melhor conhecimento pode levar a melhores decisões em marketing, vendas, produção, e distribuição.

O conhecimento é, portanto, o maior capital da empresa. Gerenciar este capital intelectual e tê-lo disseminado e compartilhado por todos da organização e principalmente tê-lo disponível no momento exato para dar suporte às tomadas de decisões dos executivos, é o grande desafio que as organizações estão enfrentando e que são depositadas nos processos da Gestão do Conhecimento com aplicação das novas tecnologias.

A Gestão do Conhecimento pode ser vista como uma coleção de processos que governa a criação, disseminação e utilização do conhecimento para atingir os objetivos da organização. Ela foca três aspectos principais: (1) ativos intangíveis (com ênfase no fator humano), (2) tornar a gestão do conhecimento algo explícito, e (3) incentivar e criar mecanismos que facilitem aos funcionários compartilharem seus conhecimentos.

Para transformar dados em informações precisamos de ferramentas computacionais comuns. Mas, para transformar informação em conhecimento precisamos de tempo e técnicas complexas geralmente de Inteligência Artificial. Conhecimento não é nem dado nem informação, mas está relacionado a ambos. Podemos pensar em informação como sendo dado que faz sentido, que faz diferença. Por exemplo, o número "6" seria apenas um dado, "6 pessoas" seria uma informação, e "se não houver fiscalização podemos por 6 pessoas em um carro" é um conhecimento. Todavia, o conhecimento é um conjunto formado por experiências, valores, informação de contexto, criatividade aplicada à avaliação de novas experiências.

Nas organizações, o conhecimento se encontra não apenas nos documentos, bases de dados e sistemas de informação, mas também nos processos de negócio, nas práticas dos grupos e na experiência acumulada pelas pessoas. Em inglês é chamado de "expertise".

Como exemplos de ferramentas e métodos que podem ser empregadas para auxiliar na Gestão do Conhecimento citamos as Intranets Corporativas, Sistemas de Workflow e de Groupware, Memórias Corporativas, Sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), SIGE (Sistemas Integrados de Gestão Empresarial), Document Management System, SWOT, Balanced Scorecard, Benchmarking, Data Warehouse, Data Mining (Mineração de Dados), entre outros. Estima-se que o uso de Datawarehouse, por exemplo, gera um retorno de investimento para as empresas de cerca de 400 % em um período de um ano.

Assim, não devemos mais se limitar a definir a empresa como apenas uma unidade econômica de produção de bens e serviços. Esta deve principalmente ser vista como uma unidade de produção de conhecimento. De fato, a empresa além de suas habilidades de agir, se adaptar, e crescer tem um know-how detido por seus integrantes, que reflete toda sua competência para desenhar, construir, vender, e dar suporte aos seus produtos e serviços.

A Gestão do Conhecimento deve ser vista, portanto, como uma estratégia essencial para desenvolver a competitividade das empresas e do Estado e se tornar algo permanente. O desempenho da empresa depende cada vez mais de sua capacidade de tornar acessível para todos os conhecimentos tácitos e explícitos individuais. Isto passa por uma apreensão dos avanços tecnológicos e das teorias de criatividade e aprendizagem individual e organizacional. As empresas devem também pensar em seus colaboradores não mais como "recursos humanos" e sim como "capital humano".

Portanto, investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação são necessários tanto na academia como no setor produtivo e os avanços da tecnologia gerencial relacionada à Gestão do Conhecimento e das tecnologias de informação e de telecomunicações podem de fato aumentar a capacidade de gerar, difundir e armazenar conhecimento de valor para as empresas.

PROF. DR. SOFIANE LABIDI.
soflabidi@gmail.com
twitter.com/slabidi

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